quarta-feira, 30 de agosto de 2017

APLICATIVO ABC AUTISMO-TECNOLOGIA DE INCLUSÃO

APLICATIVO ABC AUTISMO-TECNOLOGIA DE INCLUSÃO  
Por Simone Ferreira Lima, RU 1377654
Polo – Porto Alegre-Zona Norte
Data 30/08/2017

    
"War in Vietnam", por Milda Bandzaite (Autista), 2008 - Fonte: Revista Galileu
O ABC Autismo é um aplicativo móvel desenvolvido no Brasil, por pesquisadores do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), disponível para smartphones e tablets, cuja principal função é auxiliar no processo de alfabetização e servir como ferramenta de apoio no tratamento e educação de crianças e adolescentes. Implantado na rede pública municipal de Porto Alegre, desde 2015, tem promovido avanços na inclusão na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental.
O TEA -Transtorno do Espectro Autista - é um transtorno de desenvolvimento que afeta a vida da pessoa em várias áreas, pela vida toda. Pode ser definido como uma síndrome comportamental que apresenta sintomas básicos como: dificuldade de interação social; déficit de comunicação social; padrões inadequados de comportamento que não possuem finalidade social. Segundo a Associação Americana de Psiquiatria - Apa (2014), “o desenvolvimento do aprendizado, dentro de um Transtorno de Desenvolvimento, não possui o mesmo padrão que em pessoas neurotípicas”.
 A nova ferramenta é baseada na metodologia TEACCH, Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Déficits relacionados com a Comunicação, criado em 1964, na Universidade da Carolina do Norte (EUA). Método educacional específico para educação de pessoas com TEA, mundialmente difundido. O aplicativo possui 40 fases interativas distribuídas em 04 níveis de dificuldade. Cada nível corresponde à um nível de trabalho TEACCH e suas fases tratam a atividade de transpor figuras de uma área denominada Área de Armazenamento (metade esquerda da tela), até uma área denominada Área de Execução (metade direita da tela).
O aplicativo é utilizado por crianças entre 4 e 13 anos, em acompanhamento de alfabetização. Tanto as que apresentam linguagem verbal, que normalmente possuem um nível mais avançado de desenvolvimento cognitivo, e as que não apresentam linguagem verbal e se encontram nos níveis iniciais do tratamento.
A neuropediatra Carla Gikovate explica, em entrevista dada a Agencia Brasil: “Tem crianças que não alfabetizam porque não conseguem prestar atenção nas letras, outras podem ter dificuldade em memorizar o que aprenderam, outras podem ter dificuldades de grafismo ao fazer a forma das letras. Cada tipo de dificuldade pressupõe uma intervenção diferente.”
De acordo com a pedagoga da Escola Municipal Machado de Assis, o aplicativo tem ajudado no desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita, mas precisa estar totalmente alinhado ao programa TEACCH. Outro fator importante foi que os pais se sentiram estimulados a auxiliarem seus filhos, pois existem inúmeros aplicativos na internet que auxiliam a alfabetização, mas a maioria não está focada nos déficits específicos do TEA.
Estudos iniciais, apresentados por pesquisadores no Simpósio Brasileiro de Sistemas de Informação, apontam que “a dinâmica alfabetizadora utilizada no aplicativo está devidamente representada através de níveis de complexidade diversos, visando auxiliar a criança autista a aprender de uma forma adaptada às suas necessidades, por meio de uma estratégia a partir da qual as unidades básicas da leitura são ensinadas ao indivíduo, de acordo com as premissas do programa TEACCH”.
A experiência tem sido positiva, e promissora, se for levado em conta que já são mais de 40 mil downloads registrados. Os próprios pais reiteram isso, segundo as demais educadoras da escola que auxiliam as crianças no uso da ferramenta. A mãe do menino Carlos, de 3 anos, Tatiana Lima, diz que o ABC Autismo ajudou o filho, por exemplo, a ter coordenação para encaixar objetos. “Foi uma grande ajuda. O aplicativo ajuda muito para prender a atenção dele, ele ficar parado e concentrado por um período razoável.” Outra relata que o filho, de 13 anos, devido à boa interface da ferramenta, “consegue abrir o game espontaneamente e jogá-lo com bastante autonomia”.
O caminho ainda é longo, há pontos a melhorar: A diretora-técnica da Associação Brasileira de Autismo, reporta à Agencia Brasil que “Para uma aprendizagem mais sólida, eu acho que teria que ter mais conteúdo nesse mesmo formato do aplicativo. Eu acho que tem chance de melhorar mais a aprendizagem de português se forem introduzidos mais módulos no jogo, com graus de dificuldade maiores”.
Dados da Organização das Nações Unidas apontam que “cerca de 1% da população mundial – ou um em cada 68 crianças – apresenta algum transtorno do espectro do autismo, e a ocorrência da condição neurológica tem aumentado”. Ban Ki-moon afirmou que “embora as pessoas com autismo tenham, naturalmente, uma ampla gama de habilidades e diferentes áreas de interesse, todas elas compartilham a capacidade tornar nosso mundo um lugar melhor”.  Ressaltou, ainda, que “o autismo não é bem compreendido em muitas sociedades, apesar de afetar milhões de indivíduos”.

Construir uma sociedade inclusiva e comunidades acessíveis leva tempo, mas experiências como essa tem mostrado como a tecnologia pode ser uma forte aliada na criação de mecanismos de acessibilidade. Pois os direitos não podem ser garantidos apenas em leis, é necessário que estejam em prática na vida das pessoas, fazendo a diferença.

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